Linguagem da encenação teatral
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Linguagem da encenação teatral
Por José de Oliveira Júnior,
A Linguagem da Encenação teatral, titulo original – Théâtre et mise en scène - de Jean Jacques Roubine, tradução de Yan Michaslki, Editora Jorge Zahar, ano 1998, 237 páginas.
No livro o autor narra nos seis capítulos existentes na obra, o surgimento do teatro moderno no século XX, mais precisamente no final do século XIX e isto se da, com dois fenômenos, ambos resultante da revolução tecnológica, que foi a quebra de fronteiras territoriais e a iluminação elétrica, outro fato de tamanha importância foi as condenações das práticas teatrais antigas. O autor dá uma visão panorâmica do teatro moderno francês, fazendo uma abordagem de todos os elementos que compõe um espetáculo.
A peculiaridade de uma pratica teatral se alimenta de outra, ou seja, o teatro é escravo de sua infraestrutura material. Quem inaugura o teatro moderno, segundo Roubine, é Antoine com suas inovações. Roubine convida o leitor a fazer uma reflexão, sobre os elementos que contribuíram para evolução do teatro. Para isto, expõem um apanhado de ideias, pensamentos e práticas dos fazedores de teatro da época dos Simbolistas até os Contemporâneos.
Sobre a Questão do Texto no Teatro Roubine começa pelos texto centristas, ou seja, para eles a encenação emana diretamente do texto, o ator é um mero simulador, e todos os elementos que compõem o espetáculo são subalternos ao texto colocando assim os outros recursos do espetáculo como irrisório. Neste período, quando houve uma espécie de sacralização do texto, deu-se, de certa forma um espaço para o desenvolvimento da teoria e prática da cenografia, pois o cenário deveria criar toda a ambientação do texto, e o cenógrafo era uma espécie de artesão. O trabalho do ator dava-se simplesmente à encarnação e a dicção da personagem do texto; vedado ao ator qualquer tipo de criações ou adaptações do mesmo. O textocentrismo, era o espetáculo a serviço do texto – do autor, e é compreensível que seja assim, pois ele é o pilar da encenação simbolista, visto que se tratar de um movimento de poetas. Movimento à procura de um imaginário estético que os naturalista de certa forma iriam sufocar, deturpar, corromper. Vemos ao mesmo tempo uma especialização destes profissionais, cada um com suas atribuições e todos as serviço do texto. No entanto este modelo – o textocentrismo – evolui se adequa às exigências das novas gerações.
Já os naturalistas acreditavam que o espetáculo se desenvolvia da materialização do texto. Não aboliram o texto mas o novo pensamento é que o texto pode ser modificado, mudando o sentido de acordo com a época e seu público e que as intenções do autor não podem incluir outras referências de outra interpretação. Mesmo assim os naturalistas não buscam a exclusão do texto e sim a articulação deste com a encenação. Segundo Roubine para Antoine o Espetáculo articulava-se a partir e em torno de um texto.
No inicio do século XX começa surgir com maior poder a pessoa do encenador e a arte de representar aperfeiçoa e inventa novas técnicas de representação e a cada experiência, dá nova roupagem a arte da encenação, cria novas formas de visualizar, de materializar ações, personagens e situações imaginadas pelo escritor. Neste tempo a arte do encenador vai fortalecendo-se e assumindo maior importância no processo da construção do espetáculo. Os encenadores começam a defender um espaço maior no processo; defendem que o encenador não é um mero artesão, um ilustrador do texto, mas um criador. Deve respeito ao texto, mas que lhe é de direito criar quando o texto permite, propondo um visão pessoal do encenador sobre o texto. Estabelece assim o conflito entre texto e o encenador.
Vai tomando corpo lentamente uma certa deposição do texto como ressalta Roubine no seu livro, segundo o autor alguns profissionais ou pensadores da época levantam questões acerca do tema. Gaston Baty reagiu à submissão do encenador ao texto seguindo a ideia de Craig que era a superação do encenador, colocando assim o autor como um colaborador do encenador. Muitos pensadores vão dando corpo a esta discussão entre texto/encenador e mais adiante ator. Jacques Copeau diz que tudo que emana da literatura constitui a essência do teatro. O que mais tarde será negado por Antonin Artaud que defende que o texto estabelece um relação parasitária com o teatro, uma relação de sufocamento, que a comunicação na encenação não é possível somente pelo texto. Artaud defende a eliminação do texto mas conserva as palavras num sentido encantatório, mágico, ele quer o espectador ofegante. Meyerhold defendia a adaptação do texto para atender as passagens do tempo ou as pesquisas formais e estéticas; considerava que o sentido de um texto podia mudar de um época para outra, almejava uma articulação diferente do texto e do espetáculo. Para isto o efeito ilusionista do espaço cênico é substituído por um espaço organizado e funcional que serve para o serviço do ator, além do recurso chamado “pré-representação” destinada a romper a identificação do espectador e do ator com o personagem, ideia contrária as práticas de Stanislavski seu antigo mestre. A pré-representação pode ser considerada o princípio, o esboço da teoria de Brecht sobre o Distanciamento
Uma nova posição sobre o texto começa a criar corpo; inicia –se uma alteração do modo de ver o texto. Brecht faz uma interação à função do texto dentro do teatro; o problema do texto tem novo termo, o de ser interrogado dentro de um conjunto de realizações cênicas. Brecht trata das várias possibilidades e interpretações do texto, além, de intervir no mesmo concomitantemente, com inserções de novos elementos cênicos ou gráficos como “músicas (os songs), tabuletas, projeções, inscrições, diagramas, etc; segundo Roubine. Estes elementos e termos formam a teoria do Distanciamento criada por Brecht.
O Distanciamento, “ consiste em deixar claro para os espectadores que o espetáculo não é uma imitação do real mas uma simulação de um objeto fictício – Roubine.” Brecht altera os diálogos mixando comentários e situações nos personagem criticando-os ao mesmo tempo que os expõem em seus dramas. O espaço cênico de Brecht é povoado de elementos significantes, a cenografia, os objetos, o figurino e tudo mais que está em cena demonstra algo enganador, simulador, contrapondo texto e espectador, na tentativa de criar o debate sobre o tema exposto na representação e chegar a um significado. A teoria do Teatro Épico de Brecht, se formula “onde o texto como qualquer instrumento da representação, é exibido assumidamente enquanto texto de teatro, mostrado como um artefato, uma combinação de referencias… e coloca o ator, em falso e lhe proíbe tanto a representação heroica como o mimetismo naturalista… (Roubine)”
Seguindo as transformações da visão e as relações com o texto por parte dos encenadores nos deparamos com o teatro de integração que propõe ao espectador uma experiência dos limites pessoais e coletivos. Para Grotowski a resposta da pergunta sobre o autor e o texto, sofre uma modificação. O autor, e não mais só ele e o encenador, mas sim toda a coletividade é que forma e revela o espetáculo, todos são agentes criadores. Grotowski, como Stanislasvski, concentra-se na problemática da representação, em questões voltadas para o ator. O personagem serve ao potencial do ator. “o ator torna-se seu próprio personagem.” O que Grotowski chama de Desvendamento. O personagem serve ao ator. (O personagem tradicional não tem mais razão de ser. Ele servirá de molde, permitindo uma formalização do trabalho do ator – Grotowski; apud: Roubine.)
A seguir o autor explana sobre as experiências do Théâtre du Soleil, que desenvolve um trabalho com improvisações baseadas em personagens como os da Commedia Dell’ Arte. A partir daí é criado o texto da performance do comediante. Tem um enredo a ser seguido, um texto guia, onde os atores se orientam para criar seus diálogos. Neste modelo o texto é criado juntamente com o espetáculo. Dá-se aqui o processo de criação coletiva. Neste formato o encenador se vê livre da figura do autor, já que o texto é criado coletivamente e no processo de construção do espetáculo. Não há mais uma obra formata, publicada e rubricada a ser encenada, todo o texto será construído junto com a encenação. O Téâtre du Soleil desenvolve o teatro da improvisação, da criação coletiva com técnicas e estios catalogados, orientados por um representação sem autor. ( não há mais uma obra, mas aquilo que os anglos –saxões chamam de Works in progress, um material aberto, transformável.- Roubine)
Encerrando o capitulo sobre a “Questão do Texto”, Roubine deixa claro que em nenhum momento da história do teatro, de Antoine passando por Craig, Artaud, Breacht e até mesmo as experiências do Théâtre du Soleil, não se aboliu ou se quis fazer um teatro sem texto realmente; nem mesmo Artaud com sua visão mais radicalizada. E que mesmo hoje com as colagem de texto, com outras fórmulas de tratamento e criação do texto o que se vê é a evolução constante da representação teatral. E sobre o tema o autor encerra concluindo que “a evolução que assistimos assemelha-se a uma mutação. O lugar e a função do autor teatral estão sendo fundamentalmente redefinidos. “
Fonte: junioroliveiraluz.com
Atenciosamente.
A Linguagem da Encenação teatral, titulo original – Théâtre et mise en scène - de Jean Jacques Roubine, tradução de Yan Michaslki, Editora Jorge Zahar, ano 1998, 237 páginas.
No livro o autor narra nos seis capítulos existentes na obra, o surgimento do teatro moderno no século XX, mais precisamente no final do século XIX e isto se da, com dois fenômenos, ambos resultante da revolução tecnológica, que foi a quebra de fronteiras territoriais e a iluminação elétrica, outro fato de tamanha importância foi as condenações das práticas teatrais antigas. O autor dá uma visão panorâmica do teatro moderno francês, fazendo uma abordagem de todos os elementos que compõe um espetáculo.
A peculiaridade de uma pratica teatral se alimenta de outra, ou seja, o teatro é escravo de sua infraestrutura material. Quem inaugura o teatro moderno, segundo Roubine, é Antoine com suas inovações. Roubine convida o leitor a fazer uma reflexão, sobre os elementos que contribuíram para evolução do teatro. Para isto, expõem um apanhado de ideias, pensamentos e práticas dos fazedores de teatro da época dos Simbolistas até os Contemporâneos.
Sobre a Questão do Texto no Teatro Roubine começa pelos texto centristas, ou seja, para eles a encenação emana diretamente do texto, o ator é um mero simulador, e todos os elementos que compõem o espetáculo são subalternos ao texto colocando assim os outros recursos do espetáculo como irrisório. Neste período, quando houve uma espécie de sacralização do texto, deu-se, de certa forma um espaço para o desenvolvimento da teoria e prática da cenografia, pois o cenário deveria criar toda a ambientação do texto, e o cenógrafo era uma espécie de artesão. O trabalho do ator dava-se simplesmente à encarnação e a dicção da personagem do texto; vedado ao ator qualquer tipo de criações ou adaptações do mesmo. O textocentrismo, era o espetáculo a serviço do texto – do autor, e é compreensível que seja assim, pois ele é o pilar da encenação simbolista, visto que se tratar de um movimento de poetas. Movimento à procura de um imaginário estético que os naturalista de certa forma iriam sufocar, deturpar, corromper. Vemos ao mesmo tempo uma especialização destes profissionais, cada um com suas atribuições e todos as serviço do texto. No entanto este modelo – o textocentrismo – evolui se adequa às exigências das novas gerações.
Já os naturalistas acreditavam que o espetáculo se desenvolvia da materialização do texto. Não aboliram o texto mas o novo pensamento é que o texto pode ser modificado, mudando o sentido de acordo com a época e seu público e que as intenções do autor não podem incluir outras referências de outra interpretação. Mesmo assim os naturalistas não buscam a exclusão do texto e sim a articulação deste com a encenação. Segundo Roubine para Antoine o Espetáculo articulava-se a partir e em torno de um texto.
No inicio do século XX começa surgir com maior poder a pessoa do encenador e a arte de representar aperfeiçoa e inventa novas técnicas de representação e a cada experiência, dá nova roupagem a arte da encenação, cria novas formas de visualizar, de materializar ações, personagens e situações imaginadas pelo escritor. Neste tempo a arte do encenador vai fortalecendo-se e assumindo maior importância no processo da construção do espetáculo. Os encenadores começam a defender um espaço maior no processo; defendem que o encenador não é um mero artesão, um ilustrador do texto, mas um criador. Deve respeito ao texto, mas que lhe é de direito criar quando o texto permite, propondo um visão pessoal do encenador sobre o texto. Estabelece assim o conflito entre texto e o encenador.
Vai tomando corpo lentamente uma certa deposição do texto como ressalta Roubine no seu livro, segundo o autor alguns profissionais ou pensadores da época levantam questões acerca do tema. Gaston Baty reagiu à submissão do encenador ao texto seguindo a ideia de Craig que era a superação do encenador, colocando assim o autor como um colaborador do encenador. Muitos pensadores vão dando corpo a esta discussão entre texto/encenador e mais adiante ator. Jacques Copeau diz que tudo que emana da literatura constitui a essência do teatro. O que mais tarde será negado por Antonin Artaud que defende que o texto estabelece um relação parasitária com o teatro, uma relação de sufocamento, que a comunicação na encenação não é possível somente pelo texto. Artaud defende a eliminação do texto mas conserva as palavras num sentido encantatório, mágico, ele quer o espectador ofegante. Meyerhold defendia a adaptação do texto para atender as passagens do tempo ou as pesquisas formais e estéticas; considerava que o sentido de um texto podia mudar de um época para outra, almejava uma articulação diferente do texto e do espetáculo. Para isto o efeito ilusionista do espaço cênico é substituído por um espaço organizado e funcional que serve para o serviço do ator, além do recurso chamado “pré-representação” destinada a romper a identificação do espectador e do ator com o personagem, ideia contrária as práticas de Stanislavski seu antigo mestre. A pré-representação pode ser considerada o princípio, o esboço da teoria de Brecht sobre o Distanciamento
Uma nova posição sobre o texto começa a criar corpo; inicia –se uma alteração do modo de ver o texto. Brecht faz uma interação à função do texto dentro do teatro; o problema do texto tem novo termo, o de ser interrogado dentro de um conjunto de realizações cênicas. Brecht trata das várias possibilidades e interpretações do texto, além, de intervir no mesmo concomitantemente, com inserções de novos elementos cênicos ou gráficos como “músicas (os songs), tabuletas, projeções, inscrições, diagramas, etc; segundo Roubine. Estes elementos e termos formam a teoria do Distanciamento criada por Brecht.
O Distanciamento, “ consiste em deixar claro para os espectadores que o espetáculo não é uma imitação do real mas uma simulação de um objeto fictício – Roubine.” Brecht altera os diálogos mixando comentários e situações nos personagem criticando-os ao mesmo tempo que os expõem em seus dramas. O espaço cênico de Brecht é povoado de elementos significantes, a cenografia, os objetos, o figurino e tudo mais que está em cena demonstra algo enganador, simulador, contrapondo texto e espectador, na tentativa de criar o debate sobre o tema exposto na representação e chegar a um significado. A teoria do Teatro Épico de Brecht, se formula “onde o texto como qualquer instrumento da representação, é exibido assumidamente enquanto texto de teatro, mostrado como um artefato, uma combinação de referencias… e coloca o ator, em falso e lhe proíbe tanto a representação heroica como o mimetismo naturalista… (Roubine)”
Seguindo as transformações da visão e as relações com o texto por parte dos encenadores nos deparamos com o teatro de integração que propõe ao espectador uma experiência dos limites pessoais e coletivos. Para Grotowski a resposta da pergunta sobre o autor e o texto, sofre uma modificação. O autor, e não mais só ele e o encenador, mas sim toda a coletividade é que forma e revela o espetáculo, todos são agentes criadores. Grotowski, como Stanislasvski, concentra-se na problemática da representação, em questões voltadas para o ator. O personagem serve ao potencial do ator. “o ator torna-se seu próprio personagem.” O que Grotowski chama de Desvendamento. O personagem serve ao ator. (O personagem tradicional não tem mais razão de ser. Ele servirá de molde, permitindo uma formalização do trabalho do ator – Grotowski; apud: Roubine.)
A seguir o autor explana sobre as experiências do Théâtre du Soleil, que desenvolve um trabalho com improvisações baseadas em personagens como os da Commedia Dell’ Arte. A partir daí é criado o texto da performance do comediante. Tem um enredo a ser seguido, um texto guia, onde os atores se orientam para criar seus diálogos. Neste modelo o texto é criado juntamente com o espetáculo. Dá-se aqui o processo de criação coletiva. Neste formato o encenador se vê livre da figura do autor, já que o texto é criado coletivamente e no processo de construção do espetáculo. Não há mais uma obra formata, publicada e rubricada a ser encenada, todo o texto será construído junto com a encenação. O Téâtre du Soleil desenvolve o teatro da improvisação, da criação coletiva com técnicas e estios catalogados, orientados por um representação sem autor. ( não há mais uma obra, mas aquilo que os anglos –saxões chamam de Works in progress, um material aberto, transformável.- Roubine)
Encerrando o capitulo sobre a “Questão do Texto”, Roubine deixa claro que em nenhum momento da história do teatro, de Antoine passando por Craig, Artaud, Breacht e até mesmo as experiências do Théâtre du Soleil, não se aboliu ou se quis fazer um teatro sem texto realmente; nem mesmo Artaud com sua visão mais radicalizada. E que mesmo hoje com as colagem de texto, com outras fórmulas de tratamento e criação do texto o que se vê é a evolução constante da representação teatral. E sobre o tema o autor encerra concluindo que “a evolução que assistimos assemelha-se a uma mutação. O lugar e a função do autor teatral estão sendo fundamentalmente redefinidos. “
Fonte: junioroliveiraluz.com
Atenciosamente.
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