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A encenação como espaço de ensino e aprendizagem

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A encenação como espaço de ensino e aprendizagem Empty A encenação como espaço de ensino e aprendizagem

Mensagem por Admin Qua Dez 31, 2014 9:43 am

Por: Wagner Rosa e Lucinea Aparecida de Rezende (orientadora).

Resumo 
Pensando-se a relação ensino e aprendizagem, apresenta-se aqui a encenação como um instrumento com o qual tanto o professor quanto o aluno podem pôr em prática elementos do aprendizado ao utilizar as ferramentas necessárias ao processo de elaboração e produção da encenação. Com esta prática, o aluno tem a possibilidade de exercitar a criatividade e a capacidade de desenvolvimento das diversas informações as quais teve (ou está tendo) acesso no processo de aprendizagem formal. O trabalho de encenação oferece, desde seu início, possibilidades de interpretação de um ou mais textos (visual, sonoro, corporal ou escrito), a busca por seus inúmeros significados e até mesmo suas contradições, tornando mais “saboroso” o aprender, ou seja, propicia o envolvimento leitor e texto. Abre-se assim um leque de possibilidades e recursos como cenografia, figurinos, iluminação e sonoplastia que, empregados com mediação qualificada podem vir a contribuir para uma efetiva aprendizagem. A realização da encenação pode colaborar ainda, enquanto elemento facilitador de aprendizagem e mediador de conhecimento, como fator de motivação e valorização do aluno enquanto indivíduo e também como um ser social, dado o caráter coletivo da produção de uma encenação.
Palavras chave: encenação, educação, ensino e aprendizagem, teatro na escola.

INTRODUÇÃO

O saber artístico no contexto de salas de escola formal, escolas de dança e escolas de teatro, experimentado tanto na condição de educando quanto de educador ao longo de duas décadas, leva-me a questionamentos voltados às relações de ensino-aprendizagem tradicional, em busca de propor novas possibilidades de trabalho.
Ao pensar a encenação como um instrumento catalisador de informações na relação ensino e aprendizagem, tanto o professor quanto o aluno podem ser beneficiados com o seu emprego, ao colocarem em prática elementos do aprendizado, utilizando os conhecimentos específicos necessários ao processo de elaboração e produção da encenação.
Neste “pôr em prática”, o aluno tem a possibilidade de exercitar a criatividade e a capacidade empreendedora. Neste sentido, o processo de encenação deve partir do aluno e dos diversos estímulos propiciados à criação (poder-se-ia dizer apoiado em textos de várias fontes). Daí o aluno assumir um ponto de vista a respeito de tais referências e, mediante o estranhamento/conhecimento/reconhecimento de conteúdos dos elementos do teatro (práticas interpretativas, poéticas da encenação, literatura, teorias e história) partir para a individuação de modos de criar.
O trabalho de encenação oferece (e necessita), desde seu início, possibilidades como a interpretação de texto(s) (sejam estes visual, sonoro, corporal ou escrito) e a busca por seus inúmeros significados e contradições, a elaboração de uma cenografia com seus aspectos arquitetônicos e pictóricos, o emprego da sonoplastia e também da iluminação, o estudo da indumentária e maquiagem para caracterização dos personagens. Enfim, conhecer os elementos de construção de cena . 
Assim, o aluno tem ainda a possibilidade de desenvolver e inter-relacionar, no processo da encenação, os diversos conteúdos a que tem acesso no processo de aprendizagem formal.
Ampliam-se possibilidades e recursos que, empregados com a devida mediação podem, além de contribuir para uma efetiva aprendizagem, exercer funcionalmente um processo de motivação e também de valorização do aluno enquanto indivíduo e, mais, como um ser social, devido às condições que podem vir a propiciar a ampliação de relacionamentos interpessoais e sociais.

O CONCEITO DE ENCENAÇÃO 
Na história do teatro, a utilização do termo encenação é recente, datando da segunda metade do século XIX, época em que o encenador passa a ser o responsável pela “arrumação” do espetáculo. Anterior a esta época, o ensaiador ou, por vezes, o ator principal era o encarregado de fundir o espetáculo em moldes preexistentes.
Duas definições de encenação são propostas por Veinstein (apud PAVIS: 1999 p.122). A primeira, sob o ponto de vista do grande público; num sentido mais amplo, o termo encenação indica o conjunto dos meios de interpretação cênica: cenário, iluminação, música e atuação. A segunda visão refere-se à acepção dos especialistas: Num sentido mais focado, o termo encenação designa a atividade que consiste na disposição, num certo tempo e num certo espaço de atuação, dos diferentes elementos de interpretação cênica de uma obra dramática.
A encenação consiste em transpor a escritura dramática do texto para uma escritura cênica. É, em suma, a materialização do texto por meio do ator e do espaço cênico, numa duração vivenciada pelos espectadores. O espaço é projetado em palavras e o texto é inscrito no espaço gestual do ator. O gesto, por sua vez, é metodicamente trabalhado para ser legível, sendo estilizado e associado mnemotecnicamente ao desenrolar do texto, ancorado em alguns pontos de referência .
Os diferentes componentes da representação, devidos muitas vezes à intervenção de vários criadores, como o dramaturgo, o músico e o cenógrafo, por exemplo, são reunidos e coordenados pelo encenador. Assim, a encenação passa a formar um sistema orgânico completo, uma estrutura onde cada elemento se integra ao conjunto, onde todos os detalhes são ordenados para que nada seja deixado ao acaso, e assim, possuir uma função na concepção de conjunto.
O modo de se fazer a produção depende do estilo ou abordagem do dramaturgo; a amplitude de possibilidade estilísticas para a realização de uma encenação é bastante ampla: realista, naturalista, melodramática, absurda, burlesca etc., assim como podem variar as maneiras de dramatizar a encenação, de forma concreta ou abstrata, por exemplo, ou ainda em comédia ou drama.
Stanislavski (apud PAVIS: 1999 p.123) afirma que compor uma encenação incidirá em materializar o sentido profundo do texto dramático a ser trabalhado. Para isso, a encenação disporá de todos os recursos cênicos (elementos de construção da cena) e também dos recursos lúdicos, como a atuação, a corporalidade e a gestualidade.

A ENCENAÇÃO COMO ESPAÇO DE ENSINO E APRENDIZAGEM. 
A renovação da compreensão do ensino-aprendizagem em arte depende de se repensar a atuação didática, focalizando o papel do professor como mediador entre o educando e a educação. 
A encenação, indistintamente da linguagem espetacular (dança ou teatro, por exemplo), a aproximação do aluno com os elementos de construção da cena e, em determinado momento com a platéia, são fatores que podem ampliar a experiência de edificação de conhecimento, considerando-se a interdisciplinaridade ao propor as referências teóricas do âmbito artístico (dança e teatro) ao repertório teórico da educação formal. Além da sua aplicabilidade num contexto prático de construção artística e de ensino de arte.
Questiona-se aqui como o educando articula o que aprende na escola tradicional e o que aprende na escola de arte, ou melhor, produzindo arte na escola, inter-relacionando estes conhecimentos. Então, vislumbra-se uma metodologia de ensino que possa oferecer o trânsito entre estas duas realidades a partir de uma encenação.
Podemos definir encenação como a atividade que consiste em combinar um conjunto de meios de interpretação cênica e articular o trabalho de criação, transpondo-se a leitura de uma ou mais linguagens para uma escrita cênica.
Apresentada como elemento de abordagem pedagógica, a encenação pode tornar-se um mediador eficaz para proporcionar um espaço de aprofundamento conceitual e a aplicação prática dos conteúdos estudados no ambiente escolar. Dessa forma, a produção da encenação propicia não apenas a compreensão e aceitação da ambigüidade e da subjetividade presentes nos processos artísticos, mas também a valoriza como dimensão real e sensível da experiência e do trabalho no processo de criação. A transposição de elementos teóricos em práticos durante a encenação vem a ser um meio ativo de estimular a capacidade de observação do aluno e também o seu sentido crítico em relação ao conhecimento e à linguagem cênica com a qual passa a ter contato.
Para Melo (2005: 96-116) a presença das expressões artísticas no quotidiano da sala de aula pode ter duas funções específicas: como objetos de aprendizagem e como estratégias de aprendizagem. No entanto, pode-se depreender desta questão que a vivência e a construção de um conhecimento em arte, oferecendo condições para a construção de um indivíduo autônomo, independente e crítico, a arte, portanto, não deveria ser considerada estratégia, mas essência . Neste artigo, apresenta-se a encenação como “estratégia” de aprendizagem, não questionando a arte em si, mas sim a apropriação de elementos específicos da arte, em função de contribuir para a prática educacional. Ou seja: partir-se-á desta consideração, buscando avançar no entendimento da arte como recurso e estímulo do desenvolvimento intelectual, sensível e humanístico, livrando-nos, gradativamente da interpretação da arte como “estratégia”.
Ao participar da criação e realização de projetos cênicos , os alunos podem vivenciar as várias etapas e técnicas do processo de encenação teatral, desde a escolha do tema – caso opte-se por haver um - até a sua realização cênica. Podem também exercitar as principais funções técnico-artísticas do espetáculo (atuação, direção e assistência da direção, iluminação e operação de luz e som, etc.) e explorarem as características e possibilidades da linguagem da encenação.
Além da possibilidade de apropriação dos vários elementos de construção da cena, oportuniza-se a exploração e emprego de outras linguagens, tais como a dança, a mímica e o cinema, por exemplo, além da contemplação da dimensão da fruição estética (PAREYSON, 1997), pensada como essencial ao desenvolvimento de competências de reflexão do fazer artístico. Podem inclusive incentivar nos alunos uma “formação crítico/reflexiva” (ALARCÃO, 2003). Ainda, os alunos têm a possibilidade de apreender o universo das teorias teatrais abordadas como espaço de valorização do humano, as referências artísticas e suas relações com o contexto escolar. Em suma, o aluno acaba por adequar o conhecimento adquirido em sala de aula às necessidades da encenação, utilizando-se das ferramentas desta.
Dessa forma, a encenação proporciona o desenvolvimento da intuição, do raciocínio e da imaginação: destrezas da expressão e comunicação (BEST, apud MELO, 2005 p.99). Ao mediar a encenação de acordo com essas destrezas adquiridas pelo aluno, o aprendizado pode tornar-se mais efetivo, uma vez que a educação artística baseia-se na experiência direta dos sentidos, legitimando-os como fonte de conhecimento. O objetivo é relacionar a pessoa e a experiência diretamente, construindo-se conexões entre o verbal e o não verbal, entre o que é estritamente lógico e o emocional, entre literatura e ciência (BARBOSA, apud MELO, 2005 p.99) enfim, entre os conteúdos transmitidos e suas oportunidades reais de aplicabilidade.
Também a possibilidade de socialização não deve ser descartada. A adequada preparação do aluno para a experiência do palco, por intermédio de treinamentos adequados e de estudo das dinâmicas de improvisação e expressão corporal, são fatores que podem contribuir para a sua desinibição. A capacitação destas competências pode auxiliar na ampliação da capacidade de oratória, além de contribuir para uma maior compreensão do corpo como fundamento da expressão e comunicação humanas. Segundo Melo (2005, p. 98-99) os estudos a respeito do fazer artístico em ambiente de ensino permitem valorizar o papel das expressões artísticas como catalisadoras do desenvolvimento pessoal e relacional, já que a maior parte das experiências artísticas desencadeadas no processo de encenação são melhor aproveitadas, nesse contexto, com a opção pela criação coletiva. A educação artística, aqui representada pela encenação, permite reconhecer a interdependência causal e explicativa da criação artística no mundo mais amplo das idéias e das ações sociais, políticas e econômicas, promovendo a aprendizagem da empatia com outros modos de pensar, trabalhar e expressar, podendo ser considerada como um espaço de exercício da tolerância e de cidadania.
Trata-se aqui de condições ideais para a produção de uma encenação com fins pedagógicos, tendo presente o incentivo à criatividade.

ARTICULAÇÃO INTERDISCIPLINAR
Além de apresentar a encenação como elemento de abordagem pedagógica enquanto mediadora na aplicação prática dos conteúdos estudados no ambiente escolar, pode-se abordar a produção de uma encenação acerca das características de articulação interdisciplinar, já que esta funciona como facilitadora (e fator) de aproximação entre as disciplinas. Por exemplo, um estudo realizado na disciplina de história ou de geografia (política) para caracterização de época ou costumes. Ou um estudo de óptica para melhor aproveitamento da luz ou de ótica, para maior compreensão e adequação do som no espaço da cena, além de outras disciplinas que podem estar aliadas e alinhadas em suas propostas de ensino. Uma referência de aplicação prática dos conteúdos numa encenação é apresentada por Oliveira (2000), que relata um trabalho realizado no Colégio Frei Orlando, no qual a matemática é apresentada em forma de representação teatral com os conteúdos desenvolvidos.
Neste sentido, a encenação contempla a aquisição de quadros conceptuais e procedimentais necessários à compreensão das experiências humanas do passado e do presente, equacionando historicamente a diversidade das culturas (urbanas, rurais, populares e de elites) (ADORNO, apud MELO, 2005 p.99). As possibilidades e as variáveis aqui são inúmeras. A apropriação do conteúdo para aproveitamento na encenação caberá ao aluno em suas investigações, sem negar a participação do orientador enquanto mediador, que pode (e deve) favorecer estas “intercomunicações disciplinares”, apoiado nos objetivos curriculares da instituição de ensino onde ocorrerá a encenação com o intuito de focar o sentido didático da realização desse trabalho.
A apresentação da encenação pode necessitar ainda de material de apoio e de mão-de-obra para a sua divulgação. Para isso, outros tantos recursos podem ser/estar inter-relacionados. A produção de cartazes, ingressos ou convites, a divulgação em jornais (jornal da escola ou do bairro), a confecção de flyers (filipetas) são, todos estes, elementos que sugerem a necessidade implícita da utilização de computadores e impressoras, além de habilidades específicas em determinados softwares, como os editores de texto e imagens (para a confecção do material de divulgação). Estes últimos podem ser feitos nas aulas de informática. Caso estas não existam no currículo da instituição promotora do evento, podem vir a ser criadas para esta finalidade especifica, na qualidade de atividade complementar.
  A busca por pequenos patrocínios ou contribuições (para compra de material para confecção de cenários, figurinos e material de divulgação entre outros) também pode ser acompanhada por estratégias dentro do próprio bairro, nas proximidades da escola e nas residências das famílias envolvidas. Além de permitirem o contato com a realidade, estas ações estão intrinsecamente ligadas a noções de matemática básica e financeira, estatística e economia, que podem ser empregadas para o controle do orçamento da produção. 
A conscientização ambiental pode ser tema garantido, no reaproveitamento de materiais e trabalho com produtos recicláveis, aliando-se a conhecimentos de sociologia, filosofia e biologia, entre outros.
Assim, o aluno tem a possibilidade de envolver-se com os conteúdos disciplinares aplicados em uma prática, além de relacionar-se com seus pares no contexto escolar e também num contexto social.

CONCLUSÃO 
Este artigo apresenta como proposta uma reflexão acerca da prática da encenação teatral como meio de otimização do processo de ensino e aprendizagem. Apresentam-se aqui aspectos relevantes a respeito da encenação teatral e dos benefícios que esta pode proporcionar no âmbito escolar.
Não se trata de apresentar uma fórmula definitiva com a qual professores e alunos repentinamente desencadearão processos de ensino e aprendizagem com eficácia garantida. Entretanto, oportuniza-se a utilização de um elemento lúdico, eficaz sob aspectos como a transversalidade de conhecimentos, trabalho em equipe, discussão de temas e análise textual, musicalidade e gestual (expressão corporal), contextualização histórica de local e/ou período, além de outras possibilidades.
Visamos oportunizar a reflexividade a respeito da vivência artística e também das ações realizadas na própria instituição que se dispõe a utilizar este mecanismo, uma vez que o tema abordado na encenação pode ser o cotidiano da própria escola onde se desenrolará o projeto, discutindo-se ainda saúde, política, relações de poder etc.
Um fator não abordado com maior profundidade aqui é o tempo. É relevante atentar que a carga horária destinada à encenação implicará em seu resultado, uma vez que a produção de uma encenação necessitará da realização de várias etapas para sua conclusão, como a escolha do tema, a contextualização, a escalação do elenco principal e elenco de apoio, com a devida preparação vocal e corporal destes elencos. Como opção por um método de trabalho, recomenda-se aqui a criação coletiva e/ou, principalmente, o processo colaborativo por serem abordagens que democratizam as ações do indivíduo para um fim coletivo, sendo uma ótima abordagem para integrar o elenco, assim como a encenação pode ser para integrar escola e comunidade.
Reforça-se ainda a possibilidade oportuna do pensamento reflexivo a respeito não somente do produto final, mas principalmente de como se produziu a encenação, refletindo sobre o seu processo de elaboração e execução. Não menos importante que uma obra bem acabada e, dado o seu caráter didático, é o fazer, a ação em si que funcionará como elemento transformador, como impulsionador e motivador.
A ação, por si só, já funciona como determinante ponto de partida para o aprendizado, visto que por meio do lúdico proposto numa encenação , a ação vai funcionar como força motriz, impulsionando o fazer (individual e coletivo) em uma direção única, produzindo desejo e curiosidade, ou seja, estimulando a criatividade e mantendo motivados os seus integrantes. Essa motivação age positivamente na integração entre os participantes da encenação e, conseqüentemente, no processo de ensino e aprendizagem.

FONTE: conexaodança.art.br

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